"Vou apanhar o autocarro. Não faz diferença"

Na estação do metropolitano da Pontinha, uma das mais movimentadas de Lisboa, poucos foram surpreendidos pela greve dos trabalhadores da transportadora. Circulação é retomada às 06.30 desta sexta-feira.
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A filha de Margarida José até podia ter estado de folga na última terça-feira, mas, quando soube que os trabalhadores do Metropolitano de Lisboa (ML) estariam em greve na quinta-feira, pediu para alterar o seu dia do descanso para hoje. À 11.ª paralisação desde outubro, e a avaliar pela calma que pelas 08.00 reinava na estação da Pontinha, os lisboetas parecem ter-se adaptado à rotina de ocasionalmente ter de encontrar um meio de transporte alternativo para chegar ao destino. Mesmo quando as portas encerradas constituíram ainda uma surpresa.

"Vou apanhar o autocarro. Não faz diferença", garantiu ao DN Fernando Garcia, de 64 anos. Residente na Pontinha (Odivelas) e com uma consulta médica marcada no centro de Lisboa, sabia já que a alternativa ao metropolitano era o 726 - uma das carreiras reforçadas pela Carris para tentar minimizar os efeitos de uma greve que, tal como se previa e segundo a Federação dos Sindicatos de Transportes e Comunicações (Fectrans), teve "uma adesão quase total".

No interface localizado no cruzamento entre três concelhos - Lisboa, Amadora e Odivelas -, era, de resto, em torno das paragens de autocarro que na manhã desta quinta-feira se concentrava a maioria das pessoas. "Tivemos sorte. Hoje é dia de autocarro e não de metropolitano. Não é normal estar tão calmo", desabafaram, bem-dispostas, Margarida José e Isabel Ferreira, enquanto esperavam pelo 747, com passagem por Telheiras.

Era para chegar até lá que Maria Eduarda pretendia apanhar o metropolitano. "Eu sabia que havia greve, mas não sabia que era o dia todo. Costuma ser só de manhã", explicou, em passo apressado, referindo-se às quatro greves que decorreram já este ano e que terminaram pelas 11.00. Desta vez, é diferente e, informou o ML em comunicado, apenas às 06.30 desta sexta-feira os comboios voltarão a circular. Anteriormente, anunciara que o serviço seria retomado às 00.15, algo que não será possível devido à realização de um plenário de trabalhadores.

Numa nota publicada esta quinta-feira no seu "site", a Fectrans reconhece que "há um prejuízo imediato para os utentes", mas sustenta que em causa está o "futuro da empresa". A contestação é sobretudo contra a "entrega a privados da operação" da transportadora, mas há também reivindicações: a existência de um "serviço em que sejam diminuídos os tempos de espera", o fim das "avarias sistemáticas que provocam frequentes interrupções na circulação", a admissão de funcionários "para preencherem os postos de trabalho operacionais necessários", o investimento na "manutenção e conservação dos equipamentos e infraestrutura" de modo a garantir "a segurança dos utentes e o "reforço da componente social do transporte público", com a implementação de preços que incentivem a sua utilização.

Já a empresa, que partilha o conselho de administração com a Carris, "reitera o seu empenho na prossecução das medidas necessárias que garantam a sustentabilidade do serviço de transporte que o Metro disponibiliza diariamente" e frisa que "prosseguirá o seu propósito de servir, cada vez melhor, as necessidades da mobilidade em Lisboa".

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